Palavra de especialista
Os desafios da Paternidade diante de um mundo novo Publicado: 03 Março 2022 | Última Atualização: 01 Abril 2022

Respeitar e reconhecer as necessidades das crianças e exigir seu espaço na vida delas são alguns dos desafios da paternidade moderna.

*Sueli Bravi Conte

O tempo e as mudanças de comportamento apontam que a criação dos filhos só pela mãe já não é mais absoluta. Assim como a maternidade, a paternidade também tem suas características de adequação.

Dizem os pesquisadores que ainda temos resquícios de uma educação que nos ensinou que a responsável pelos filhos é a mãe. Mas, aos poucos, os pais começam a deixar o papel de “provedor exclusivo” para serem participantes ativos na vida das crianças.

Nosso termômetro é a reunião de pais e mestres na escola. Já existe uma participação muito maior dos pais hoje em dia. Contudo, assim como não existe uma mãe ideal, tampouco existe um modelo de pai.

A participação ativa dos pais passa pela rotina dos filhos. Dar atenção a eles só quando chega o boletim da escola não vale. É preciso se aproximar do cotidiano das crianças e adolescentes. Quem assume o papel de pai deve participar como quem vai dar o limite, quem vai estimular e elogiar, quem vai acompanhar sua criação.

Os psicólogos são quase unanimes em afirmar que cinco minutos por dia já podem fazer a diferença para o desenvolvimento da relação pai e filho. Mas não adianta um dia do mês e, de alguma forma, tentar “tirar o atraso”. A proximidade se constrói aos poucos e é importante para a criança sentir que pode confiar no pai e que está sendo valorizada.

Ao testemunhar um mau comportamento dos filhos, muitos pais se queixam dizendo: “Mas não está faltando nada para ele”. Não está faltando nada mesmo? Carinho não pode ser trocado por recompensas. A presença é muito importante e se envolver com os filhos não se resume a levar uma lembrança ou um presente no final do dia, ao voltar do trabalho. Nesse contexto de trocas, muitos pais também confundem masculinidade com falta de afeto e evitam até beijá-los e abraçá-los. O pai pode e deve mostrar o amor que sente com interação física, inclusive durante as brincadeiras, o que é essencial enquanto eles são crianças. Às vezes, o pai prefere não brincar de boneca com a filha, por exemplo, porque fica constrangido, mas é preciso se adaptar e desenvolver a interação mais pessoal — ficar somente no computador e no videogame não é uma solução. A criança precisa de afeto.

Quanto à autoridade, muitos homens ainda confundem autoritarismo com masculinidade e se tornam pais que se impõe por meio do berro e da ameaça. A imposição deve ser evitada. Não existe regra por regra. Fazer algo apenas porque o pai mandou não faz nenhum sentido na cabeça da criança. É preciso justificar a autoridade com mensagens de desenvolvimento humano e carinho. A autoridade impede os filhos de expressarem sentimentos e pensamentos com facilidade, pois eles não se sentem respeitados e acabam se fechando. Isso cria uma distância. Ou seja, limites devem ser construídos no dia a dia com afeto.

Na contramão dos pais autoritários estão os pais permissivos. Embora afetuosos, eles não se dispõem a estabelecer limites para os filhos e terminam sendo ausentes. O pai demasiadamente permissivo deixa de se posicionar e prefere deixar o filho fazer tudo o que quer. Trata-se daquele pai que costuma dizer: “veja com a sua mãe!”. Ele nunca toma as decisões. Transferir a responsabilidade para a mãe é sinal de ausência.

Aliás, o erro mais recorrente dos pais é não tomar uma postura em relação à educação dos filhos. A ausência, a falta de posicionamento e de autoridade causam uma carência muito forte, principalmente quando os filhos são pequenos. Essa regra vale não só para a hora de tomar decisões, mas também para os afazeres miúdos e os cuidados do dia a dia, como o banho, a alimentação e as brincadeiras. Resumindo, seja uma decisão concreta ou uma situação lúdica, a atitude deve vir dos dois.

Outro elemento importante é o espaço. A mãe deve dar espaço para a entrada do pai na vida dos filhos. Às vezes ela não acredita muito na capacidade do pai de cuidar, principalmente quando as crianças são menores. Porém, a figura masculina é importante e deve atuar em colaboração com a mãe até nas pequenas coisas. A troca de opiniões é extremamente importante e deve acontecer sem que um desautorize o outro.

Os exemplos de comportamento são, além de importantes, fundamentais. Ou seja, um bom pai é também um bom marido e um bom cidadão. Todo o ambiente ao redor da criança influencia na formação dela e a figura do pai conta muito. Para os filhos crescerem da melhor maneira possível, os pais devem ser maduros emocionalmente. Tanto o homem quanto a mulher precisam saber quais são os próprios valores diante de uma sociedade que muitas vezes os leva a conhecer pouco sobre si mesmos e a serem negligentes, competitivos, preconceituosos e consumistas.

Para completar, o mais importante dos exemplos: para ser um bom pai é preciso primeiro ser um bom ser humano.

*Sueli Bravi Conte é educadora, psicopedagoga, mestre em Neurociência e mantenedora do Colégio Renovação, instituição de ensino com mais de 35 anos de atividades e que atua da Educação Infantil ao Ensino Médio.