Palavra de especialista
Brincar funcional para crianças neurodiversas Publicado: 01 Junho 2022 | Última Atualização: 22 Junho 2022

Uma das grandes dificuldades da família de crianças neurodiversas é saber como brincar com seus filhos.

Isso, porque muitas vezes a criança não engaja com as atividades ou tem dificuldades em variar as brincadeiras. "Muitas vezes os pais não sabem como variar o repertório de brincadeiras", destaca a neuropsicóloga Bárbara Calmeto, diretora do Autonomia Instituto.

As brincadeiras, os jogos e os brinquedos estão na vida das crianças desde bem pequenas e fazem parte da principal função da vida delas. O brincar traz o desenvolvimento do lúdico, da criatividade, da comunicação social, da interação com crianças e adultos e é uma forma de expressividade.

"O processo de brincar com crianças típicas ocorre de forma muito natural, elas interagem e a brincadeira acontece. Ninguém precisa ensinar exatamente o processo de brincar porque é inerente à vida dela. Além disso, as crianças com desenvolvimento típico dão as funções apropriadas aos objetos e compartilham as atividades com outras pessoas que estão na brincadeira. As crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), normalmente, apresentam déficits na comunicação e interação social e, com isso, apresentam dificuldades no brincar funcional e compartilhado", explica Bárbara.

Ela lembra ainda que, muitas vezes, elas apresentam um repertório empobrecido do brincar, dificuldades de variação nas brincadeiras e até nos brinquedos, além de uma rigidez nos processos do brincar e para compartilhar brincadeiras sociais. "Algumas crianças com TEA até brincam ao lado de outras, usando os mesmos brinquedos. Mas não conseguem brincar com outras crianças compartilhando os brinquedos e mais ainda, não conseguem compartilhar as brincadeiras", diz.

O brincar funcional envolve usar objetos de um modo que é apropriado à sua função, como por exemplo, andar com carrinho na pista, fazer o avião voar, chutar a bola, dar comidinha na colher para a boneca, fazer a boneca dormir como bebê.

Abaixo, a neuropsicóloga explica os benefícios do brincar funcional para a crianças com Autismo:
- Faz a criança compreender melhor o mundo ao seu redor;
- Proporciona interação social
- Favorece a criatividade
- Estimula a concentração e a alternância de turno
- Desenvolve aspectos cognitivos
- Estimula coordenação motora grossa e fina
- Prepara a criança para novas aprendizagens
- Amplia repertório de outras habilidades

Mas como estimular esse brincar funcional para crianças neurodiversas?
"Para começar, a ideia é buscar o interesse da criança, para saber como ela quer brincar, e em cima disso a gente vai ampliando o repertório de brincadeiras, mas de uma maneira natural. Brincadeiras simples como as do tipo sensório-social funcionam muito bem, pois o adulto e a criança se envolvem juntos, como fazer cosquinha; serra serra serrador; o dançar; se esconder; bolinha de sabão, entre outras.

A partir daí a gente começa a ampliar as atividades, como encaixe simples, argola na haste, bolinha dentro do pote, brinquedos de causa e efeito, martelar etc. Então, é mais na prática mesmo que ensinamos os pequenos a desenvolverem o repertório do brincar do que na explicação sobre a função. É importante fazer essa introdução da brincadeira funcional, mas pegando pela motivação da própria criança.

Por exemplo: às vezes, a criança vem com foco em um carrinho. Aí, a gente começa a brincar com ela da forma que ela já estava brincando para criar um acesso à criança. Então, pegamos o mesmo carrinho e começamos a variar em cima daquele cenário. Pegamos outros carrinhos, outros tipos, com outras cores. Depois, introduzimos outros transportes, como caminhão com bichinhos dentro, depois um onibus com bonequinhos etc. A ideia é apostar no item de foco e ampliar gradualmente. Quando a criança estiver aceitando mais, colocamos uma pista para colocar o carrinho em cima, chegando à aplicação funcional daquele item. Depois, com o tempo, vamos ampliando para outros tipos de brincadeiras, que envolvem causa e efeito, como encaixar a bola no cesto, por exemplo", conclui Bárbara.